sexta-feira, 24 de julho de 2009

Só distribuição de renda, via salários, mantém vigor do mercado interno

Na crise é que a gente percebe a verdadeira face do capitalismo em que vivemos. No início da crise mundial, os alarmistas de plantão pintaram o pior quadro possível para o Brasil. Haveria, segundo eles, um estrangulamento sem precedentes na economia brasileira. E já aproveitaram as más notícias para demitir em massa, fazendo um corte de mais de 600 mil vagas e deixando de criar novas oportunidades de trabalho. Logo, perceberam que o mercado interno tinha um vigor acima da análise pessimista. Muitos empresários começaram a perder dinheiro por falta de estoque e começaram algumas recontratações tímidas. E em menos de seis meses, o capitalismo tupiniquim brasileiro começou a se recompor. Mas mantendo, como de hábito, o velho estilo de arrancar o máximo possível da classe trabalhadora. Virou o ano, entramos no segundo semestre de 2009, e grande parte dos empresários continua a adotar a rotatividade de mão-de-obra para ampliar seus lucros. Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", levantamento feito pelo Ministério do Trabalho mostra que, apesar da expansão do emprego que tem sido observada nos últimos anos, as novas vagas oferecem salários inferiores àqueles recebidos pelos demitidos. No primeiro semestre deste ano, o salário médio das pessoas contratadas foi de R$ 754,79, enquanto as pessoas demitidas no período recebiam R$ 858,58. Ou seja, os novos empregados recebiam, quando admitidos, 12% menos do que aqueles que perderam o emprego na mesma época.Uma esperteza burra dos empresários que são míopes e esquecem que o que blindou a economia brasileira no ano passado foi o nosso mercado interno. Se esquecem que o que sustentava o mercado interno eram os trabalhadores com salários decentes, que continuaram a consumir e que ajudam o Brasil a se sair mais ou menos bem nesta crise. Mas o egoísmo e a miopia patronais não têm limites. São empresários que dirigem suas empresas perto da cegueira estratégica absoluta. Pois, ao apostar na rotatividade e na substituição dos trabalhadores por outros com salários 12% menores, comprometem diretamente o vigor do mercado interno.É, por isso, que os trabalhadores brasileiros e suas centrais sindicais estão pressionando o Congresso Nacional para que aprove ainda neste ano a redução da jornada para 40 horas semanais, sem redução de salários, e que o Brasil assine a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para controlar as demissões imotivadas para redução da massa salarial, atualmente praticada pelas empresas.Porque, se deixar por conta dos patrões, corremos o risco de comprometer o mercado interno brasileiro. Pois a atual crise provou que só um mercado interno forte, sustentado por uma crescente distribuição de renda, via empregos com salário digno, protege nossa economia. Mas tem muito patrão que prefere administrar apenas com o egoísmo imediato. Por isso, nós, trabalhadores e trabalhadoras, temos que assumir nossa responsabilidade cívica e pressionar o Congresso Nacional a votar leis a favor da modernização de nossa economia e do Brasil.