sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Somos vítimas da rotatividade

O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) acaba de divulgar que a rotatividade da mão de obra cresceu 8,7 pontos percentuais entre 2001 e 2010.
No ano passado, o índice de substituição de trabalhadores nas empresas brasileiras chegou a 53,8%, com 22,7 milhões de demissões. Descontando fatores alheios à vontade das empresas, como aposentadoria, morte ou demissão voluntária, a rotatividade ficou em 37,3%.
Segundo o Dieese, as empresas desligam empregados para contratar substitutos com salários menores. Em 2010, a remuneração média dos demitidos era R$ 896, enquanto a dos substitutos ficou em R$ 829.
Os setores com maior rotatividade de mão de obra foram agricultura, com 98,3% de demissões e 74,4% por inciativa dos empregadores, e a construção civil, com 86,2% de demitidos por vontade das empresas.
Na comparação com 25 países, o Brasil apresentou, em 2009, um dos mais curtos períodos médios de permanência no emprego: cinco anos. Apenas nos Estados Unidos o tempo médio de permanência no emprego é menor, 4,4 anos. Na Espanha, o trabalhador fica no mesmo emprego quase o dobro do tempo do trabalhador brasileiro: 9,6 anos. Na Itália, a média de permanência é 11,7 anos e na Polônia, 9,3 anos.
Ou seja, está mais do que chegado o momento histórico de a sociedade civil, através do Congresso Nacional fazer valer o que nós trabalhadores já pregamos há muitos anos. É preciso controlar a rotatividade para acabar com a sangria desatada na renda da classe trabalhadora.
Já está no Congresso Nacional a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que regulamenta e controla as demissões imotivadas. Temos que a todo momento tornar claro para os políticos que nos representam que cansamos de ser vítimas da insegurança no emprego que acelera a rotatividade por causa da irresponsabilidade dos empresários que usam a demissão arbitrária para economizar às nossas custas. E enquanto a Convenção 158 não é aprovada no Congresso Nacional só podemos entender que os políticos são cúmplices dos maus empresários.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Na base da pirâmide

Antes do governo do ex-presidente Lula, a cada resfriado na economia mundial, nossos governantes tinham o triste hábito de proteger o andar de cima da economia (as elites e os banqueiros) com aumento de juros e restrição severa no crédito.
As consequências nós cidadãos e trabalhadores sentíamos imediatamente na pele. Aumentava o desemprego e nos distanciávamos dos bens que precisávamos. Pois era impossível sustentar prestações altíssimas restritas a prazos de 12 meses, no máximo.
Aí surgiu o governo popular do ex-presidente Lula, que foi seguido por Dilma Rousseff. Pois bem, a cada ameaça real de crise mundial, como está ocorrendo agora na Grécia, Itália e Portugal, o governo brasileiro olha para a base da pirâmide.
Nessa semana, por exemplo, o Banco Central resolveu ampliar o financiamento dos automóveis novos para 60 meses, prazo de financiamento que havia sido interrompido desde o início do ano como medida de esfriamento da nossa economia.
Mas diante da crise lá fora, o melhor a fazer é apostar em nosso mercado interno e em nossa capacidade de consumir conscientemente. Como trabalhadores e cidadãos queremos ter o direito de investir a médio e longo prazo na aquisição de bens.
E já superamos, felizmente, a necessidade urgente das compras de eletrodomésticos. Já temos nossa TV (muitas delas LCD), nossa geladeira, nosso vídeo. E muitos de nós já tem um ganho familiar que nos permite sonhar com o carrinho, com a viagem de avião ou de navio.
Precisamos, sim, de crédito. Principalmente agora que se anuncia no horizonte uma redução civilizada em nossos juros, a ponto de podermos sonhar com uma taxa de juros anual de um dígito, ou seja, menor que dez por cento no próximo ano.
Acerta o governo da presidente Dilma em seguir os passos de Lula e olhar para a base da pirâmide. Temos pouca sobra, porque nossa renda familiar ainda é modesta. Mas somos muitos e temos a alegria de investir todo nosso dinheirinho suado aqui mesmo no Brasil.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

40 horas semanais ou 11 horas por dia?

Reportagem divulgada pelo Diário do Grande ABC nos mostra que quase metade dos brasileiros trabalha entre nove e 11 horas por dia. Dos 523 profissionais ouvidos no Brasil, 43% têm essa carga horária. Nos demais 84 países, onde a pesquisa também foi realizada, a média é de 38%.
O Diário ouviu Guilherme Ribeiro, diretor da Regus, empresa que patrocinou a pesquisa, que disse que cada vez mais se dilui o limite entre o que é serviço nos horários de expediente e nos horários que deveriam ser dedicados às folgas.
Além disso, se constata que a distância entre o emprego e a residência é mais um fator de estresse e de gasto de tempo, com o consumo mínimo de uma hora para ir e outra hora para voltar do trabalho.
É por se agravar esse cenário de muitas horas dedicadas ao trabalho que nosso Sindicato, junto com a Força Sindical e demais centrais, está na batalha pelas 40 horas semanais, sem redução de salario e com um controle rígido das horas extras.
Para as empresas o que interessa é a produção sem se preocupar com a qualidade de vida de seus empregados. Mas com as 40 horas semanais vamos obrigar os empresários a buscar maneiras alternativas de manter a produção, através de um planejamento melhor ou com a contratação de mais profissionais.
Porque o excesso de horas trabalhadas gera consequências para a saúde pessoal e para o bem-estar das famílias, sem o retorno financeiro significativo.
Estar junto dos nossos filhos, ter mais tempo para nós mesmos e poder se dedicar à leitura, ao aprendizado e ao convívio familiar é algo que não tem preço.
Com as 40 horas semanais vamos poder flexibilizar também nossos horários de entrada e saída. Pois será bom para as empresas e melhor ainda para desafogar o trânsito, reduzindo as horas que perdidas dentro de ônibus, trens e metrôs.
Nosso papel político e social como trabalhadores é reforçar a campanha pelas 40 horas semanais. Porque se depender dos empresários, vamos trabalhar até 16 horas por dia e, em muitos casos, ainda seremos obrigados a levar tarefas para casa.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

A vaca sagrada dos bancos

Todas as épocas têm as vacas sagradas que merecem. Na época da ditadura militar, falar em liberdade era subversão. Era proibido sonhar com justiça social. Mesmo assim, superamos a ditadura e enterramos as várias vacas sagradas daquela época.
Nos tempos da inflação alta falar em controle de preços era uma heresia. Todo mundo achava natural que se reajustassem os valores das mercadorias diariamente. E os salários, depois de muita luta, eram atualizados a cada dois meses.
Hoje a vaca sagrada são os juros adotados, arbitrariamente, pelos banqueiros. Falar, por exemplo, em concorrência bancária, que estimularia a redução dos juros para o consumidor final é proibido, pois se trata da vaca sagrada da nossa época. Chegamos ao absurdo de ter que conviver com juros do crédito pessoal que são 6 vezes a Taxa Selic. Impunemente. Desavergonhadamente.
Todo mundo sabe como os bancos operam contra os interesses nacionais, mas o Brasil continua o mesmo, pois os consumidores e trabalhadores brasileiros já sabem, de antemão, que ninguém mexe com a vaca sagrada que é o juro adotado pelos banqueiros.
Veja alguns exemplos: a média de juros cobrada pelos bancos no empréstimo pessoal fica em 68% ao ano enquanto que a a taxa básica de juros, a Selic, está em 11,5% ao ano. No cheque especial, o juro supera 186% ao ano.
E nada é feito porque mexer com os juros adotados pelos banqueiros é mexer com a atual vaca sagrada da nossa economia.
Só para se ter uma ideia, a diferença de juros que os banqueiros pagam para captar dos seus correntistas e os juros adotados para emprestar, muitas vezes para esses mesmos correntistas, é de 85%.
É o famoso spread bancário brasileiro, que é adotado, impunemente, desavergonhadamente, nas barbas do governo, contra os interesses da produção e da geração de riquezas não especulativas em nosso país.
Hoje vemos os Estados Unidos e Europa às voltas com uma crise econômica e financeira sem precedentes. Crise que foi gerada e realimentada pela falta de controle sobre os bancos e o sistema financeiro.
Se a gente continuar a tratar os juros adotados pelos nossos banqueiros como vacas sagradas vamos realimentar o ovo da serpente, que além de congelar nosso desenvolvimento industrial (quem aguenta investir na produção com estes juros vergonhosos?), correremos o risco de estrangular nossa economia e acelerar, ainda mais, a concentração de renda nos cofres dos bancos.
Ou nos mobilizamos socialmente contra os juros altos ou seremos cúmplices de uma nova etapa da crise que vai estrangular a geração de riqueza. Crise sem precedentes pois será realimentada pelas vacas sagradas dos juros impunes cobrados pelos banqueiros.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá