quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Arrocho da massa salarial ameaça futuro do Grande ABC

 Desde a década de 50, com a instalação da indústria automobilística (incentivada pelo governo Juscelino Kubitschek) acumulamos muita riqueza na região.
De acordo com a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, somos o quarto maior PIB no Brasil, superando os 70 bilhões de reais anuais, de acordo com o último levantamento, de 2008.
 Somadas as riquezas geradas pelas sete cidades que compõem a região (Santo André, Mauá, São Bernardo, Diadema, São Caetano do Sul, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), o Grande ABC fica atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
 Uma riqueza construída por uma população que supera os 2,6 milhões de habitantes, que têm hoje à sua disposição 12 shopping centers para se tornarem consumidores, além de trabalhadores e cidadãos.

Arrocho na massa salarial
 Mas todo esse vigor econômico está ameaçado pelas atitudes inconsequentes e quase irresponsáveis de grandes setores empresariais que enriqueceram aqui no Grande ABC.
Cada vez mais as empresas contratam especialistas para arrochar a massa salarial de seus trabalhadores e trabalhadoras.
 Em vez de apostar na competitividade com investimentos em Educação, Qualificação e agregação de tecnologia de ponta, nós do Sindicato percebemos estratégias deliberadas de arrocho da massa salarial. 

Como? 
As negociações de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) são cada vez mais dificultadas pelas empresas, apesar dos lucros que acumulam.
 Na Campanha Salarial, a reposição da inflação, com aumento real, é outra batalha que nos consome meses e meses de mobilização e negociação.
 Ao longo do ano, logo após o encerramento da Campanha Salarial, entra em cena a rotatividade sistemática, e, segundo o Dieese, mais de 40% da nossa força de trabalho é substituída por salários inferiores, achatando miseravelmente os pisos salariais na região.
 E, para piorar, há uma política deliberada das empresas da região de dificultar o repasse dos abonos salariais que já é uma tradição para milhares de trabalhadores.
 O abono salarial faz parte de nossa cultura de fim de ano. É com essa grana extra que fechamos nossas contas, renegociamos nossas dívidas e somamos ao 13º salário (ou ao que restar dele) para garantir uma ceia mais alegre para nossas famílias.

Riqueza regional comprometida
Com o arrocho proposital em nossa massa salarial, a riqueza do Grande ABC seguirá cada vez mais ameaçada. Porque toda a grana que os trabalhadores recebem de salários, PLR e abono gastam aqui mesmo na região.
Estima-se que só de 13º salário um montante de meio bilhão de reais passará pelos bolsos dos trabalhadores a caminho das lojas, dos restaurantes e do comércio local.
Mas a se manterem as atuais políticas de arrocho da massa salarial, quando muitas empresas da região agem de maneira irresponsável concentrando rendas e desrespeitando seus principais aliados, que são os trabalhadores, tememos pelo futuro do Grande ABC.
 Os 12 shoppings continuarão a existir, por certo. Mas viverão às moscas. Pois trabalhador com o dinheirinho contado, arrochado pela falta de abonos salariais e sendo obrigado a conviver com PLR Merreca, não consome. E sem consumo, corremos o risco de nos transformar numa Grande Detroit.
 Detroit era uma das regiões mais prósperas nos Estados Unidos, em função da indústria automobilística. Mas que veio a decretar falência em função da irresponsabilidade das empresas locais que não souberam acompanhar os tempos modernos.
Por isso, nossa Campanha Salarial continua. E vamos por pra moer para cima das empresas que se recusam a negociar abonos salariais. Afinal, não queremos que o Grande ABC se transforme numa Grande Detroit. 

Cícero Martinha Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.