sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A vaca sagrada dos bancos

Todas as épocas têm as vacas sagradas que merecem. Na época da ditadura militar, falar em liberdade era subversão. Era proibido sonhar com justiça social. Mesmo assim, superamos a ditadura e enterramos as várias vacas sagradas daquela época.
Nos tempos da inflação alta falar em controle de preços era uma heresia. Todo mundo achava natural que se reajustassem os valores das mercadorias diariamente. E os salários, depois de muita luta, eram atualizados a cada dois meses.
Hoje a vaca sagrada são os juros adotados, arbitrariamente, pelos banqueiros. Falar, por exemplo, em concorrência bancária, que estimularia a redução dos juros para o consumidor final é proibido, pois se trata da vaca sagrada da nossa época. Chegamos ao absurdo de ter que conviver com juros do crédito pessoal que são 6 vezes a Taxa Selic. Impunemente. Desavergonhadamente.
Todo mundo sabe como os bancos operam contra os interesses nacionais, mas o Brasil continua o mesmo, pois os consumidores e trabalhadores brasileiros já sabem, de antemão, que ninguém mexe com a vaca sagrada que é o juro adotado pelos banqueiros.
Veja alguns exemplos: a média de juros cobrada pelos bancos no empréstimo pessoal fica em 68% ao ano enquanto que a a taxa básica de juros, a Selic, está em 11,5% ao ano. No cheque especial, o juro supera 186% ao ano.
E nada é feito porque mexer com os juros adotados pelos banqueiros é mexer com a atual vaca sagrada da nossa economia.
Só para se ter uma ideia, a diferença de juros que os banqueiros pagam para captar dos seus correntistas e os juros adotados para emprestar, muitas vezes para esses mesmos correntistas, é de 85%.
É o famoso spread bancário brasileiro, que é adotado, impunemente, desavergonhadamente, nas barbas do governo, contra os interesses da produção e da geração de riquezas não especulativas em nosso país.
Hoje vemos os Estados Unidos e Europa às voltas com uma crise econômica e financeira sem precedentes. Crise que foi gerada e realimentada pela falta de controle sobre os bancos e o sistema financeiro.
Se a gente continuar a tratar os juros adotados pelos nossos banqueiros como vacas sagradas vamos realimentar o ovo da serpente, que além de congelar nosso desenvolvimento industrial (quem aguenta investir na produção com estes juros vergonhosos?), correremos o risco de estrangular nossa economia e acelerar, ainda mais, a concentração de renda nos cofres dos bancos.
Ou nos mobilizamos socialmente contra os juros altos ou seremos cúmplices de uma nova etapa da crise que vai estrangular a geração de riqueza. Crise sem precedentes pois será realimentada pelas vacas sagradas dos juros impunes cobrados pelos banqueiros.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

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