sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Cuidar da própria vida

Felizmente, é impossível separar nossa vida familiar das nossas vidas produtivas e sociais. Tem muita gerência que adoraria nos ver deixando em casa nossas preocupações para poder chegar na fábrica, na loja ou no escritório sem alma e, principalmente, sem preocupações. Prontos para receber e cumprir ordens, sem questionamento.
Até muito recentemente era comum nas empresas a orientação de que os problemas pessoais não deveriam ser levados para os locais de trabalho.
Hoje, se sabe que quanto mais produtivos e criativos somos, mais integramos nossas vidas domésticas com a vida produtiva e social. Afinal, somos parte de um tecido social, cultural, religioso e econômico que se completa com nossas manifestações nos locais de moradia, nas festas em família, na igreja, nas interações com nossos colegas de trabalho e de condução.
Mesmo assim, muitas organizações querem a criatividade sem estimular as vivências completas. Como se fosse possível robôs sem alma criar alguma coisa.
Cuidar da própria vida é, cada vez mais, cuidar de nossas ansiedades e expectativas nos vários ambientes em que vivemos. Por exemplo, o que adianta trabalhar num restaurante, em que se exige os maiores cuidados com higiene, e viver numa casa insalubre, sem água encanada, sem rede de esgotos?
Ou trabalhar numa empresa com excelente alimentação e receber salários tão ridículos que nos sentimos constrangidos quando lembramos que deixamos em casa nossa família sem ter a garantia de uma mistura para a refeição?
De novo voltamos para nossa tese que cuidar de nossas vidas é cuidar de todos os relacionamentos que estabelecemos na fábrica, no escritório, nos bairros e até mesmo em nossas organizações sociais como o sindicato, igreja ou partido político.
Para ajudar a formar homens e mulheres completos que aprenderão, aos poucos, a harmonizar nossa vida pessoal e doméstica com nossas responsabilidades sociais e econômicas.
Nos unindo, de maneira cada vez mais integrada, para construir um País em que a dignidade seja parte das manifestações familiares, sociais e econômicas. Sem sermos obrigados a conviver com núcleos de extrema riqueza, rodeadas por uma pobreza vergonhosa.
E ver escapar de nossas vidas, ao longo de uma geração inteira, as oportunidades que sobram para os filhos das elites econômicas.
Viver a própria vida é então ajudar a construir um Brasil mais justo, mais harmonioso, que nos encha de alegria criativa tanto na fábrica, quanto na roda de samba. Que reforce nossas almas enquanto oramos ou quando nos reunimos para interferir nas políticas públicas.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

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